Os
doutores ou intérpretes da lei, fariseus, escribas, sacerdotes etc, formavam
verdadeiras castas em Israel; eram ávidos de poder, orgulhosos, inacessíveis, hipócritas
e falsos defensores da lei moral que eles não cumpriam, mas exigiam que a
comunidade cumprisse.
Certa vez Jesus os repreendeu dizendo: “Ai de vós, que
gostais da primeira cadeira nas sinagogas e das saudações nas praças. Ai de
vós, intérpretes da lei, porque sobrecarregais as pessoas com fardos superiores
às suas forças, mas vós mesmos nem com um dedo as tocais” (Lucas 11:44 e 46).
Outra vez Jesus, ao se referir a
eles, disse a seus discípulos e às multidões que os seguiam: “Eles atam fardos
pesados e difíceis de carregar e os põem sobre os ombros das pessoas, mas nem
êles mesmos os querem movê-los; praticam suas obras para serem elogiados;
alargam as franjas de suas vestes e aumentam os seus filactérios”. (Mat.23:4-5)
Os filactérios eram os mandamentos
da lei escritos e colocados nas mangas das vestes perto das mãos para serem
tocados pelos dedos e recitados. (Deut. 6.8 Prov.3:3 e 7:3)Eles deram origem
aos escapulários: faixas de tecido contendo orações, usadas por frades e freiras
de algumas ordens religiosas e lembram o uso do rosário, com orações repetidas
e também condenadas por Jesus.(Mat. 6:7).
O
rosário romano é uma enfiada de cento e sessenta e cinco contas, que
correspondem a cento e cinquenta ave-marias e quinze padre-nossos para serem
rezados como prática religiosa. O terço é a terça parte do rosário.
Aqueles
homens, que constituíam o corpo docente das sinagogas, onde o povo se reunia
para aprender a lei de Deus, que antes de ensinar deviam dar exemplo,
praticando o que ensinavam, são a imagem e semelhança de muitos mestres e
líderes de nossas igrejas cristãs de hoje.
Não
são poucos os bispos, presbíteros, diáconos, apóstolos e pastores, cujos nomes
desfilam na imprensa e em outros meios de comunicação de massas, como
detentores de fortunas adquiridas ilicitamente, oriundas das contribuições dos
fiéis.
Um
daqueles doutores, intérpretes da lei. Querendo apanhar Jesus em alguma falha
teológica, foi fazer-lhe uma pergunta elementar, que qualquer estudante
israelita sabia na ponta da língua: “o que fazer para herdar a vida eterna?”
Jesus,
sabendo a intenção dele, que não era a de aprender, mas de pô-lo à prova,
retrucou com outra pergunta à altura, como quem diz: tu não és um exegeta da
lei? O que está escrito nela a respeito? Como a interpretas?
Aí
veio a resposta que não podia ser outra: “amarás o Senhor teu Deus de todo o
teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças, de todo o teu
entendimento e ao teu próximo como a ti mesmo”.
“Muito
bem, respondeu Jesus: faze isso e terás a vida eterna!”.
Não satisfeito e um pouco desapontado por não
ter conseguido o seu intento, formulou nova pergunta: ”Quem é o meu próximo?”.
Jesus
costumava não responder às perguntas que lhe faziam, mesmo que fossem de boa
fé, ele usava o método socrático ou maiêutico,
que consistia em usar uma ilustração para fazer o aluno raciocinar e ele mesmo
responder à pergunta.
Então
Jesus criou uma parábola envolvendo: um desconhecido que viajava por um caminho
perigoso, entre Jerusalém e Jericó, um sacerdote, um levita e um samaritano.
Tanto
os sacerdotes quanto os levitas eram tidos como homens santos: os sacerdotes
porque ofereciam sacrifícios no altar e os levitas porque prestavam serviços no
templo. Ambas as funções tinham que ser exercidas por israelitas legítimos,
descendentes das doze tribos de Israel.
Os samaritanos eram mestiços de israelitas com
assírios e babilônios que após se libertarem do cativeiro habitaram a cidade de
Samaria. Eles criaram uma seita que seguia o Pentateuco e só acreditava nele,
rejeitando o restante do Antigo Testamento. Considerados hereges, eram, por isso
excluído pelos judeus ortodoxos, que não se comunicavam com os samaritanos.
O
viajante desconhecido foi assaltado, roubado, ferido e deixado semimorto à
beira do caminho. O sacerdote, ao vê-lo, passou de longe; o levita fez o mesmo.
O samaritano, porém, lhe prestou socorro, levou-o a um lugar seguro, pagou uma
pessoa para tratar dele, e garantiu pagar o que fosse gasto a mais quando
voltasse.
Ao
terminar a ilustração Jesus perguntou ao intérprete da lei: “Qual destes três
parece ter sido o próximo?” O que usou
de misericórdia, respondeu o intérprete.
“Vai,
e procede de igual modo”. Disse Jesus.
Nossa
reflexão deve se concentrar no nosso modo de ser, como cristãos.
Como
qual desses três personagens eu me comporto diante de situações semelhantes na
vida real? Como o sacerdote? Como o levita ou como o samaritano?