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quinta-feira, 29 de março de 2012

A Absoluta Importância do Motivo


    A prova pela qual toda conduta será finalmente julgada é o motivo.
Como a água não pode subir mais alto do que o nível da sua fonte, assim a qualidade moral de um ato nunca pode ser mais elevada do que o motivo que o inspira. Por esta razão, nenhum ato procedente de um motivo mal pode ser bom, ainda que algum bem pareça resultar dele. Toda ação praticada por ira ou despeito, por exemplo, ver-se-á, afinal, que foi praticada em favor do inimigo e contra o reino de Deus.
Infelizmente, a atividade religiosa possui tal natureza, que muito desse tipo de atividade pode ser realizado por motivos maus, como a raiva, a inveja, a ambição, a vaidade e a avareza. Toda atividade desse tipo é essencialmente má e como tal será avaliada no Julgamento.
Nesta questão de motivos, como em muitas outras, os fariseus dão-nos exemplos claros. Eles continuam sendo o mais triste fracasso religioso do mundo, não por causa de erro doutrinário, nem porque eram pessoas de vida abertamente dissoluta. Todo o problema deles estava na qualidade dos seus motivos religiosos. Oravam, mas para serem ouvidos pelos homens, e, deste modo, o seu motivo arruinava as suas orações e as tornava inúteis e, realmente, más. Contribuíam para o serviço do templo, porém, às vezes, o faziam para escapar do seu dever para com os seus pais, e isto era um mal, um pecado. Os fariseus condenavam o pecado e se levantavam contra ele, quando o viam-nos outros, mas o faziam motivados por sua justiça própria e por sua dureza de coração. Isso caracterizava quase tudo o que faziam. Suas atividades eram cercadas por aparência de santidade; e essas mesmas atividades, se fossem realizadas por motivos puros, seriam boas e louváveis. Toda a fraqueza dos fariseus estava na qualidade dos seus motivos.
Isto não é uma coisa insignificante — é o que podemos concluir do fato de que aqueles religiosos formais e ortodoxos continuaram em sua cegueira, até que finalmente crucificaram o Senhor da glória, sem qualquer noção da gravidade do seu crime.
Atos religiosos praticados por motivos vis são duplamente maus — maus em si mesmos e maus porque são praticados em nome de Deus. Isto equivale a pecar em nome dAquele Ser que é impecável, a mentir em nome dAquele que não pode mentir e a odiar em nome dAquele cuja natureza é amor.
Os crentes, especialmente os muito ativos, freqüentemente devem separar tempo para sondar a sua alma, a fim de certificarem-se dos seus motivos. Muito solo é cantado para exibição; muitos sermões são pregados para mostrar talento; muitas igrejas são fundadas como um insulto contra outra igreja. Mesmo a atividade missionária pode tornar-se competitiva, e a conquista de almas pode degenerar, tornando-se uma espécie de marketing eclesiástico, para satisfazer a carne. Não esqueçam: os fariseus eram grandes missionários, e rodeavam o mar e a terra para fazer um converso.
Um bom modo de evitar a armadilha da atividade religiosa vazia é comparecer diante de Deus, sempre que possível, com a nossa Bíblia aberta em 1 Coríntios 13. Esta passagem, embora seja considerada uma das mais belas da Bíblia, é também uma das mais severas dentre as que se acham nas Escrituras Sagradas. O apóstolo toma o serviço religioso mais elevado e o consigna à futilidade, se não for motivado pelo amor. Sem amor, profetas, mestres, oradores, filantropos e mártires são despedidos sem recompensas.
Resumindo, podemos dizer que, aos olhos de Deus, somos julgados não tanto pelo que fazemos e sim por nossos motivos para fazê-lo. Não “o quê” mas “por quê” será a pergunta importante que ouviremos, quando nós, crentes, comparecermos no tribunal, a fim de prestarmos contas dos atos praticados enquanto estávamos no corpo.


http://www.editorafiel.com.br/artigos_detalhes.php?id=149 
A ilustração foi escolhida, pois todo mundo sabe que, o combate a dengue se faz combatendo o mosquito, neste caso o vetor ilustra bem o motivo, o provocador ou o causador: o mosquito; sabemos, hoje,  muito mais sobre o motivo do que conhecemos os sintomas e as consequências da doença. 




quinta-feira, 22 de março de 2012

POR ISSO, NÃO DESISTA!


Jesus Cristo foi rejeitado, humilhado, ferido, morto, e não desistiu... Mas, Ressurgiu!...

Todo descrédito a sua mensagem, trazido pelos padres pedófilos e pelos tele-evangelistas corruptos não vão calar o testemunho de irmãos e irmãs que não desistem de pregar a Verdade. 

Infelizmente, temos uma situação tão vergonhosa; que, a generalização, tornou-se a arma dos inimigos da fé. Nem todo padre é pedófilo e nem todo pastor é corrupto.

Felizmente, na vala comum não deveriam estar todos os ministros; mas, sabemos que todos os cristãos sofrerão por causa destes, irmãos o não, ministros desonestos.

Muitos ministros não viveram o evangelho de Jesus Cristo e não foram verdadeiramente fieis, nem mesmo pregando a Verdade de Deus sem adulteração, obedecendo a Deus como convém, pois, amaram mais ao mundo e às trevas. Amaram mais a si mesmos a outros mais do que a Deus.

Deus não desiste. Muitas vezes o povo recusou obedecer a Deus e a servir ao seu criador; estou falando de cristãos!

Neste país de mais de 80% de cristãos declarados, de vários segmentos religiosos, somos recordistas em bandalheira, prostituição, corrupção, imoralidade, selvageria, etc.; pouca gente não se recorda de uma lista enorme de fraudes, fofocas, mentiras, maledicências, atos obscenos, gestos indelicados, posturas desonestas, hipócritas ou desleais; infelizmente. 

Todos nós temos muito que nos acusar à consciência. Mas, sendo inconformáveis as cifras, repercussões e consequências do que assistimos na TV e circulamos na WEB; por isso, muitos de nós tem cauterizada a sua consciência, preferimos apontar o dedo e dizer: “quem é você para me acusar”... Mas, Deus não desiste de nós!

O quanto Deus foi bondoso para com Israel; livrando-o da escravidão! 

O profeta Isaías diz que Deus os queria para si! “Este é o povo que criei para que fosse meu” (Is 43.21). E foi do meio de um povo ingrato e duro de coração que o Pai providenciou Jesus, o Salvador da humanidade corrompida. Ele não desistiu de incluir Israel no plano de Salvação.

Tudo o que vemos hoje é uma repetição da idade média: Corrupção, superstição e prostituição na Igreja. Esse era o quadro quando Deus levantou Lutero para protestar; hoje, também nós, protestamos contra a corrupção dos evangélicos. 

Estamos certos que, assim como não estava tudo perdido naquele tempo, não está tudo perdido agora também.

Apesar dos pecados e da ingratidão de seu povo, como foi em Israel, como foi na idade média, e, como é hoje.

Deus continua querendo salvar; pois, apesar de nós, Ele não desiste. 

Sempre... reaparecia um profeta, pregando arrependimento e anunciando o Reino de Deus. 

Ele nos criou; sustenta-nos a cada dia; livra-nos do mal; providenciou-nos o Salvador Jesus, mantém-nos na fé e quer que sejamos dele para sempre.

Temos o mau exemplo de Israel, da Igreja antes da Reforma com seu clero corrupto e imoral, e, dos tele-evangelistas dos dias de hoje, os quais desistiram de Deus e tomaram outros caminhos, isto ainda nos serve de alerta para não fazermos o mesmo. 

Que bom se Deus pudesse dizer de nós também: OS MEUS FILHOS NUNCA DESISTEM DE MIM, ACONTEÇA O QUE ACONTECER!

sexta-feira, 16 de março de 2012

COMO ENTRAR NO CÉU

Qual é a função da porta? Como nós entramos em qualquer lugar?


Mesmo que não tenham trancas e cadeados, todo lugar tem uma porta, portão ou portal de entrada, como por exemplo, uma ponte sobre o rio ou uma placa de boas vindas aos que entram em algum lugar.


A porta serve para dar acesso ao lugar, como a porta da igreja dá acesso ao interior do templo onde nos reunimos para adorar a Deus, a porta da nossa casa dá acesso ao aconchego do nosso lar, e, a porta pode ser fechada para segurança dos que ficam do lado de dentro. Uma mãe disse certa vez: “pastor, eu só consigo dormir quando meu filho entra por essa porta”, mas será que dentro de casa a alma de seu filho descansa segura?


Disse Jesus: “Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, será salvo; entrará, e sairá, e achará pastagem.” (João 10.9). As Escrituras usam o termo aprisco, que era um cercado, ou abrigo das ovelhas para acomodá-las durante a noite. As ovelhas do aprisco são as que não se desgarraram, pois neste tipo de curral as ovelhas estavam livres do ataque das feras.


Assim como o aprisco só tem uma porta, Jesus é a única porta que conduz a Salvação e quem entrar por ela está protegido dos perigos do mundo. Jesus também disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (João 14.6). Não existe outra porta do céu senão Jesus Cristo. Só Ele pode nos conduzir a salvação eterna.


Somos chamados a entrar e a permanecer com as ovelhas no aprisco do Bom Pastor; Sua chamada ou vocação eficaz é generosa e amorosa. Por meio de Jesus Cristo entramos com o salmista no aprisco do Bom Pastor e proclamamos: “Bondade e misericórdia certamente me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na Casa do Senhor para todo sempre.” (Salmo 23.6).

quarta-feira, 14 de março de 2012

LECTIO DIVINA REFORMADA

A tradição espiritual, transmitida principalmente pelas ordens monásticas da igreja romana, tem em seu depósito coisas antigas e proveitosas. Dentre estas coisas velhas que, têm algum proveito, encontramos este grande tesouro que, considero um patrimônio da tradição histórica da Igreja tão desconhecido de alguns protestantes, no entanto, perfeitamente conciliável com os postulados reformados.
Acredito que a novidade está no título “LECTIO DIVINA REFORMADA”, mas sua adoção pelos reformados com raras exceções que, desejaram fazer bom proveito, talvez já tenha até ocorrido sob outra nomenclatura, e, talvez, na ignorância da tradição histórica.
A instrução para Lectio Divina é uma leitura (Lectio) cuidadosa e atenta da Bíblia Sagrada para alimentar a alma. Essa leitura é chamada “Divina” porque considera a Bíblia Sagrada a Palavra de Deus. Não se deve confundir a leitura espiritual das Escrituras com a veneração da Bíblia que, seria venerá-la como a qualquer outro ídolo, sem, no entanto, conhecê-la e obedecê-la.
A expressão “Lectio Divina” também expressa o método da sua prática; o exercício do método da Lectio Divina começa com o propósito do coração do leitor cristão de ler a Palavra de Deus tendo em vista a necessidade do suprimento de sua existência, vida e fé, do alimento espiritual da Palavra de Deus para o seu crescimento espiritual e para a preservação do mesmo estado de espírito e propósito que o levou às Santas Escrituras.
O coração do leitor que dispõe deste método deve almejar crescer em sua adesão pessoal ao Deus Vivo e ao Seu Filho Jesus Cristo, em docilidade e submissão ao Espírito Santo que nos fala através das Escrituras Sagradas.
Antes de conhecer este método convém fazer uma pausa...
Ore a Deus para que Ele mude a atitude de seu coração. Rogue a Deus que a sua atitude interior não seja de curiosidade intelectual, mas seja de sede de beber da água da fonte da água viva da Palavra de Deus, que não seja influenciado pelo ceticismo e pela vaidade de opiniões pessoais, sim pelo desejo de conhecer a verdadeira mensagem, escutar a voz do Autor Sagrado e receber dele os tesouros de sua sabedoria e poder.
O cristão que prática a Lectio Divina considera que a Bíblia é o Livro de Deus no qual o Pai Celestial manifesta o seu plano de salvação e de amor para com os seus eleitos, e, fala-nos para nos proporcionar uma resposta de fé, para produzir em nós uma profunda adesão à sua Soberana Vontade revelada, para aumentar em nós a intimidade, o amor, o conhecimento e a intensidade da vida de comunhão com o único Deus.
A fé é entendida como o conteúdo recebido da revelação, como um processo dinâmico que capacita os cristãos para a proclamação, compreende a adesão ao Deus Vivo e o que dele se crê e o que dele se conhece até o que dele se experimenta e se espera. Por isso a fé é o elemento determinante da eficácia da Lectio Divina, a qual (a fé) não é produzida pelo método, pois é dom de Deus, produz proclamação com palavras e vida (atitudes) que evocam o mistério pascal de Cristo (comunhão), e, cresce com a escuta obediente da Palavra de Deus (santificação).
Por isso essa leitura é praticada sob a ação do Espírito Santo, a qual é confirmada pela convicção interior do leitor dos sentimentos e do aprofundamento da sua adesão a Palavra de Deus.
A Lectio Divina é realizada do começo ao final numa atitude de oração, de diversas maneiras, dirigidas e orientadas pela Palavra de Deus: súplicas, invocações, louvores, bênçãos, confissão de pecados, imploração do perdão, contemplação, por isso se tem denominado a Lectio Divina de “Palavra Orada”.



ETAPAS DA LECTIO DIVINA

ESCUTA: Durante a leitura permaneça atento e ouça o que Deus está falando, receba as palavras da Escritura de forma pessoal.
RESPOSTA: Ore em forma coerente com a Palavra de Deus, com submissão e fidelidade, num clima de adesão à Palavra de louvor a grandeza e bondade de Deus pelas maravilhas de seu projeto de salvação.
Estas duas etapas: Escuta e Resposta, atenta escuta e oração são indispensáveis para se realizar uma autêntica leitura “espiritual” e proveitosa da Bíblia sob a ação do Espírito Santo, a qual se transforma num diálogo de amor com o Espírito que inspirou as Santas Escrituras.


O MÉTODO

A Tradição Cristã desenvolveu um método de quatro passos para a “Lectio Divina”:
1º “Lectio”
2º “Meditatio”
3º “Oratio”
4º “Contemplatio”

1º “Lectio”: Leia e releia o texto; sublinhe a cada leitura os pontos de apoio do texto, as ações, os verbos, os sujeitos, os sentimentos, os ambientes, examine cuidadosamente cada um destes pontos, ou aspectos sublinhados; o exame de tudo isso produz o conhecimento surpreendente do texto. Certificará a diversidade de coisas que se podem descobrir.
2º “Meditatio”: Pense. Neste segundo momento, reflita sobre valores permanentes, princípios do texto, valores por trás de ações, palavras, símbolos e sentimentos. Pense. Encontre um valor central e de ênfase, pense no contexto e situação do texto, nas atitudes vividas nas páginas que se está meditando, pense nos sentimentos expressos no texto: alegria, temor, esperança, desejo, etc.
3º “Oratio”: Pouco a pouco o leitor que passou pelos passos anteriores se encontrará imerso em profundos sentimentos que o texto suscita e em convicções e sugestões do próprio Deus através da Sua Palavra. Os valores descobertos na “meditatio” agora são convertidos em oração, pois motiva o louvor, o agradecimento, a súplica e o perdão...
4º “Contemplatio”: Neste momento a diversidade de sentimento, reflexões e orações, se concentram na meditação do incompreensível, na imensidão e na infinitude do mistério do Filho de Deus que se encontra em cada página das Santas Escrituras do Velho e do Novo Testamento, especialmente do ponto de vista do Evangelho, mas, sem dúvida, a cada página da Bíblia.


A “LECTIO DIVINA” NO QUOTIDIANO  

Verdadeiramente, escutar e acolher a Palavra de Deus no coração faz do cristão um sinal expressivo do amor de Deus e da comunicação de Deus. Cristo Jesus a Palavra Viva do Pai preenche toda a existência humana, quando o ser humano se converte a Palavra.
Apoiado na Lectio Divina pergunte-se: Como minha vida, ação e vocação se converte em Palavra de Deus?
A Palavra que é Cristo, presente na Escritura, descoberta, pois revelada nas paginas da Bíblia, apropriada na “lectio” sob a ação do Espírito Santo, enraíza na fé e se expressa no quotidiano do servo autêntico do Reino de Deus.
A tradição prescreve a expressão de sua força por meio de alguns momentos sucessivos e unidos entre si no quotidiano dos fiéis: “Discretio”, “Deliberatio” e “Actio”.


“DISCRETIO”
 
Os fiéis, que verdadeiramente são eleitos em Cristo, na graça do Espírito Santo, percebem o que na vida está e não está conforme o Evangelho. É habilitado a, num determinado momento histórico discernir o que convém a si mesmo, aos outros e a Igreja.


“DELIBERATIO”
 
Os fiéis, que verdadeiramente são eleitos em Cristo, na graça do Espírito Santo. São habilitados a eleger aquilo que na vida está de acordo com o Evangelho.


“ACTIO”
 
Os fiéis, que verdadeiramente são eleitos em Cristo, na graça do Espírito Santo. São habilitados a agir de acordo com o Evangelho. É a obediência na vida dos eleitos, a qual segue da ação do Espírito Santo que inspirou a Palavra e por ela opera. Somente em obediência a Palavra de Deus a ação é espiritual ou “Secundum Deum”. O modo correto de agir e pensar é produzido pelo cristão guiado pelo Espírito Santo, ou seja, pela Palavra de Deus.

Enfim: quem deseja crescer espiritualmente, amadurecer na fé, deve buscar em oração apoiada na Palavra de Deus, e, dispõe do método da “Lectio Divina”, como um benefício da tradição espiritual.
Não importa qual método seja adotado, a fonte infinita e imutável para saciar a necessidade da alma continuará sendo a Palavra de Deus. O importante é que cada dia se faça esta leitura espiritual da Palavra de Deus para suporte da vida cristã.
É o Senhor quem nos conduz em direção a Ele, Deus conhece as nossas necessidades e nos conduz as fontes e aos pastos verdejantes como o Bom Pastor, a Bíblia é essencial à formação do discípulo para a vida cristã.

O Rev. Anatote Lopes da Silva na construção deste artigo utilizou as instruções da Exortação Apostólica ‘‘Pastores Dabo Vobis”, a qual cita a fonte P. D. V. 47’’

quarta-feira, 7 de março de 2012

O PERIGO DA PRIVATIZAÇÃO DA FÉ

Por Rev. Índio de S. Mesquita*


O autor da carta aos hebreus, falando do privilégio de acesso plural dos crentes à presença da Deus, nos chama a atenção para o perigo de privatizarmos a fé, dizendo: “consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima” (Hb 10.24-25).
Em nossos tempos, por força do pensamento individualista, subjetivista e relativista da pós-modernidade, a cada dia cresce o número de pessoas que optam por particularizar a fé, e tentam viver uma religiosidade apenas de caráter intimo e pessoal, desconsiderando em parte ou por completo o princípio de uma religião coletiva, como o é por essência o cristianismo.
São os chamados “desigrejados”. Pessoas que por motivos diversos, se afastam do convívio comum daqueles que professam a mesma fé.
Alguns por divergirem, por não concordarem com os rumos doutrinários, litúrgicos ou até mesmo administrativos da liderança, outros por decepções ocorridas no campo das relações entre os irmãos, outros pelo envolvimento extremado, às vezes, com as coisas deste mundo, seus interesses pessoais, conquistas, trabalho, laser pessoal, e outros simplesmente porque entendem não ser tão necessária a “comunhão”, em seu sentido lato ou estrito.
Num procedimento que poderíamos chamar de auto-amputação, esse afastamento do organismo vivo (o corpo), usando uma figura comum na Escritura para a Igreja, definha, deteriora, anula, mata o membro decepado. (I Co 12.27; Ef 4.12; Cl 2.17).
Como Igreja, estamos unidos a Cristo e em Cristo, assim como uns aos outros. Somos membros do corpo de Cristo e uns dos outros, precisamos dessa ligação, dessa interação para sobrevivermos e principalmente, para cumprirmos o propósito e a finalidade de Jesus tê-la instituído: para nos estimularmos uns aos outros no amor para servir a Deus vivendo as boas obras, preparadas por Deus, desde antes da fundação do mundo, para que andássemos nelas (Rm 12.15; I Co 6.15; 12.12, 18, 20, 22, 24, 25, 27; Ef 2.10).
Usando uma outra figura, o galho desligado da parreira, fica sem nutrientes, sem alimento, não cresce, não frutifica. Sobre esse, o Senhor Jesus, o cabeça do corpo que é a Igreja, disse: “quem permanece em mim, e eu nele, esse dá muito fruto...” (Jo 15.5).
O problema é antigo e persistente, e devemos estar atentos se não estamos sendo engolidos pelo costume de individualizar, de privatizar a vida cristã, que pressupõe união, unidade, comunhão, participação e envolvimento.
É preocupante ainda a questão de que a grande maioria de nós se contenta em vir à igreja apenas aos domingos, não considerando a importância e a necessidade de estar também nas reuniões semanais (quartas-feiras e sábados [em Dracena terças-feiras e quintas-feiras]), quando há uma oportunidade de estudarmos mais detalhadamente a Bíblia, com a possibilidade de tiramos dúvidas, compartilharmos experiências, revigorarmos energias, contactarmos pessoas de nossa faixa etária, ou de um mesmo interesse, dentre tantos outros benefícios.
Para não ficarmos apenas com os deveres de vivermos coletivamente a fé, o salmista nos diz: “Óh quão bom e agradável é, viverem unidos os irmãos” (Sl 133). Quando Cristo, seu amor, seu perdão, sua misericórdia, sua bondade e seu chamado, é o que temos em comum, então essa relação se torna prazerosa, agradável e vitalizante.
Segundo a indicação do autor da carta aos hebreus, consideremos se não estamos relativizando, particularizando, privatizando nossa fé, deixando de usufruir da benção de vivermos em comunhão como o povo de Deus, sobre o qual o salmista afirma expressamente, que o Senhor derrama a sua benção e a vida para sempre. Pense nisso!

* O Rev. Índio de S. Mesquita é ministro presbiteriano, auxiliar na Igreja Presbiteriana do Setor Bueno em Goiânia – GO. O Presb. Isaías Matana nos trouxe o SEMANÁRIO Nº 16/11 do dia 08 de maio de 2011, onde foi publicado este artigo.

sexta-feira, 2 de março de 2012

AFASTADOS OU DESVIADOS? II (LEIA PRIMEIRO A PARTE I)

Certamente que existem “equívocos convenientes”, tanto para o conceito de apostasia quanto para o conceito de heresia, mas a resposta elementar para a pergunta: O que é apostasia? É “desviar-se da fé em Deus”.

Sair de uma instituição, dogmática, ritualística e mercenária pode ser um recomeço, ou, uma grande oportunidade, a qual será mais bem aproveitada com maturidade cristã suficiente.

Seres humanos constroem e modelam instituições novas quando frustrados com as velhas. Todos têm um conjunto de valores, filosofias e crenças, um sistema de idéias e se serve de rituais para se levantar, purificar-se, alimentar-se, vestir-se, relacionar-se, viver, e, tornam-se mais ou menos propensos a viver em prol de seus próprios interesses, de sua família ou de sua comunidade.

Você, sua família e os grupos nos quais você convive são uma instituição natural mais ou menos organizada.

As coisas têm nomes, e as coisas denominadas que se tornaram títulos eclesiásticos são dons espirituais, conforme a Bíblia ensina; obviamente que o ser humano corrompe o propósito original de serviço de todas as coisas, por exemplo: um jovem ingressa na faculdade de medicina visando enriquecimento, um advogado estuda direito e nem sempre defende a causa dos pobres, um policial nem sempre está interessado na segurança das outras pessoas. Assim também servos dotados de dons de governo, mestres, profetas entre outros dons alistados na Bíblia gozam do status quo do dom divino para a manipulação e até usurpam o senhorio de Cristo, e, nem sempre são dons, podendo se tratar de uma usurpação ou uma simulação.

Poderiam abrir mão do status quo dos dons como poderiam os que servem nalguma profissão abrir mão do título acadêmico ou da consagração popular e servir com o coração e a alma, mas nem sempre isso acontece, pois são algo próprio da cultura os nomes das coisas, associados aos seus valores intrínsecos e a sua natureza; convém acreditarmos então que, existam aqueles que se apresentem como tal e procedam conforme se identificam com algum título eclesiástico proveniente dos dons nomeados em diversos textos bíblicos, como diácono=servo, presbítero=ancião, bispo=supervisor, ministro=escravo, etc, sem, contudo exercerem a dominação e a manipulação condenada pela Escritura. São estes os bons obreiros.

João era um profeta semelhante a Elias, pertencente a um grupo judaico, e, como acontece com os profetas: acusado de louco e herege por uns e seguido e ouvido por outros, verdadeiro para alguns e falso para outros, sóbrio para alguns e louco para outros, assim sempre será com todos os profetas. Um dia sua cabeça estará a prêmio. Eu que o diga. Mas sobre João o Batizador ter sido considerado um apóstata desconheço. Suas renuncias o caracterizava e o identificava com uma ordem antiga, peculiar do judaísmo messiânico, de profetas do deserto, identificado pelos estudiosos com o grupo dos Essênios, àqueles que deixaram um tesouro posteriormente descoberto e hoje conhecido como os Manuscritos do Mar Morto; deste profeta João a fonte histórica mais acreditada (os Evangelhos) informa, cumprir-se em seu ministério a profecia de sua particular missão como precursor do Messias.

Jesus Cristo aclama João, o maior de todos os profetas; sua missão que o qualificou, não foi identificada com o que comia ou com a sua vestimenta de couro, com lugar que dormia ou com a observância que fazia da religião, como por exemplo, a purificação que o distinguia como batizador. Contudo, tornou-se conhecido como profeta, e, nunca renunciou este “status quo”, título, denominação, adjetivo ou substantivo que, certamente invoca a autoridade de seu ofício e objetivo: falar custe o que custar, mesmo que seja a própria cabeça.

Pertencer a uma instituição que utiliza o nome de Jesus, é louvável, usá-la para manipular pessoas e a sociedade é um erro. Isso é evidente. O que não parece evidente para muitas pessoas é que, nem toda instituição é usada para manipulação e exploração, e, obviamente tem muita gente séria comprometida com sua missão e vocação que se utiliza de uma instituição, e, obviamente que novas instituições que vêem como um erro a institucionalização da Igreja, tendo que discursar viver a igreja na informalidade, ilegalidade ou não-organização, por causa da filosofia moderna anti-institucionalista, criam uma instituição paralela para representá-la, uma entidade associativa de conformidade com as normas vigentes.

Toda instituição organizada e desorganizada pode servir para manipular e enganar, seja estatal, religiosa, filantrópica, comercial, ou mesmo uma instituição sob a égide do anti-institucionalismo!

Tem muita gente trabalhando sem a finalidade mercenária. Infelizmente os erros de muitos têm deixado tanta gente na vala comum dos mercenários, dos charlatões, e, não raro gente boa tem sido tratada como ladrão e falso profeta injustamente.

Às vezes eu duvido da inocência dos decepcionados frustrados e dos desigrejados com os mercenários e charlatões que, sentem ojeriza de quem lhe é apresentado como pastor, e, já considera o desconhecido na mesma conta. Eu confesso, sou humano o suficiente para sentir o desejo de mandar o afetado pegar o dinheiro dele e guardar em lugar escuso, pois, não peço dinheiro de ninguém, não bajulo os ricos que gostam de ser mimados na igreja porque entregam seus dízimos, nem me interessa um adepto a mais ou um a menos, interessa-me o rebanho do Pastor Jesus que Ele me capacitou com seus dons, chamou e confirmou para ensinar e guiar na verdade do evangelho, pregar onde Ele me enviar e conceder que eu pregue e confiar que Ele é o dono das ovelhas e que, a conversão não é uma obra minha, mas sim, e apenas, a pregação.

Não importa o quão corrupta seja a minha natureza, prego as Escrituras que não omite que todos os patriarcas, profetas, sacerdotes e reis pecaram, e, me exponho sempre como um pecador alcançado pela graça, porque só sobrou um Perfeito e Reto Juiz de todos os homens e mesmo dos patriarcas, profetas, sacerdotes e reis, ou de qualquer outro, com ou sem o título “eclesiástico” ou bíblico, ou as duas coisas.

Deus é verdadeiro e todo homem é mentiroso, e, se eu não pregar a Palavra de Deus eu também minto. Contudo, tenho certeza que Deus não fracassou... Há um remanescente fiel e seria uma arrogância sectária dizer que eu sou o único, ou que ele não pode estar do lado de dentro de uma instituição ou que ele não pode estar do lado de fora em alguma entidade associativa para manter uma igreja não organizada ou ilegal, ou que o remanescente é um afastado ou desviado que a conveniência da religião o chamou de apóstata... Nada disso. Acredito em milhares que não se curvaram a Baal! Em todos os lugares, espalhados como “sal da terra e luz do mundo.” Mas, “creio na comunhão dos santos”! Na Igreja, e, ela é a comunidade dos discípulos edificada por Jesus Cristo que congrega e adora o Deus Vivo! Tem muita voz contrária a dominação. Resistindo os desvarios da arrogância esquizofrênica de lideranças religiosas narcisistas. Tem gente vaidosa, covarde, maldosa, depravada, porque homem é homem, mas tem homens e mulheres resistentes tirando a cabeça do buraco.

Tem-se gente deliberadamente barganhado com a fé e tem gente de boa fé; tem-se gente que decepcionado e ferido sai errante sozinho e em perigo e tem gente que deliberadamente acusa os irmãos na fé como um bom pretexto para a licenciosidade e rendição aos prazeres da carne. Tem gente boa jogando a toalha, entregando coisas boas para a gerência de gente perversa, mas tem gente que não desiste do Caminho, da Verdade e da Vida, para seguir por caminhos que ao homem parece ser bom. Tem gente que não desiste da bondade, do amor, da fragrância do evangelho de Jesus Cristo e tem gente que se desviou... Infelizmente. 

quinta-feira, 1 de março de 2012

AFASTADOS OU DESVIADOS? (LEIA TAMBÉM A PARTE II)

Muitos se desviaram do Evangelho, a isto chamamos: apostasia; outros se afastaram da Igreja não sabemos o porquê.

A verdade é que somos todos frágeis, passíveis de escândalo, tanto de ser pedra de escândalo e de tropeço o quanto de ficarmos escandalizados com os nossos irmãos e cairmos em tentação; à tentação é de nos decepcionarmos com os irmãos de caminhada e nos tornarmos desigrejados e afastados ou desviados e apóstatas.

Deus é quem nos guarda se é que somos Seus servos, defende nossos corpos frágeis e purifica interiormente nossas almas de toda corrupção e maus pensamentos.

Desejamos arrependimento e reconciliação para os que estão nas igrejas e para os que estão fora das igrejas. Porque afastar-se por causa dos pecados alheios é igualmente falta de consciência do estado corrupto e depravado que se encontram todos os seres humanos e de sujeição uns aos outros em amor e um ato egoísta que comunica superioridade intelectual, espiritual e moral, arrogância, auto-suficiência e auto-justiça anti-bíblicas.

Sabemos que as pessoas são salvas e reconciliadas pela graça de Deus. Sabemos que há pessoas perdidas que abandonaram a fé pretextando diversas razões, mas nem todos que fazem estas alegações estão irremediavelmente perdidos. Só Deus sabe.

            Somente os que se arrependem e crêem no evangelho, manifestando viva fé, para que se firmem na verdade imutável da Palavra de Deus (conforme lemos em João 17.6: “Manifestei o teu nome aos homens que me deste do mundo. Eram teus, tu mos confiaste, e eles têm guardado a tua palavra”) evidenciam que receberam a salvação realizada por Jesus Cristo somente; Ele é quem diz ao Pai: “Eu te glorifiquei na terra, consumando a obra que me confiaste para fazer;” a saber a salvação dos eleitos.

            Mas há quem se desvie, e há quem se afaste, não desta obra consumada por Cristo, se de fato são de Cristo, mas aqueles que no mundo não sejam estes, dos quais o Pai deu ao Filho para que sejam salvos por Ele, desviam-se e afastam-se por diversos motivos: dar ouvido a heresias, amor ao presente século, decepções religiosas, inveja e rebelião (são alguns motivos).

            O Senhor na parábola do semeador fala dos que se desviam na hora da provação (Lc 8.13); Paulo escrevendo a Timóteo fala de alguns que se desviaram da verdade negando a ressurreição e pervertendo a fé dos outros com este ensino (II Tm 6.18); “Por esta razão”, exorta o escritor de Hebreus: “importa que nos apeguemos, com mais firmeza, às verdades ouvidas, para que delas jamais nos desviemos”.

            Temos o desafio de trazer os desviados de volta proposto na carta de Tiago: “Meus irmãos, se algum entre vós se desviar da verdade, e alguém o converter, sabei que aquele que converte o pecador do seu caminho errado salvará da morte a alma dele e cobrirá multidão de pecados.”(Tg 5.19).

            O estado destas almas é precário e o alerta do escritor de Hebreus é apropriado para todas: “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor, atentando diligentemente, por que ninguém seja faltoso, separando-se da graça de Deus; nem haja alguma raiz de amargura que, brotando, vos perturbe, e, por meio dela, muitos sejam contaminados; nem haja algum impuro ou profano, como foi Esaú, o qual, por um repasto, vendeu o seu direito de primogenitura. Pois sabendo que, posteriormente, querendo herdar a bênção, foi rejeitado, pois não achou lugar de arrependimento, embora com lágrimas, o tivesse buscado.” (Hb 12.14-17).

            Desocupe o seu coração de todo ódio e amargura. Há quem tenha o coração tão amargurado pelo ódio e falta de perdão que estejam mais propensos a impureza e a profanação do que ao perdão e a reconciliação. Se continuarmos regando a planta maldita do ódio e do ressentimento, a raíz de amargura brotará e seu fruto é perturbador e mortífero. “Arrependei-vos e crede no evangelho” (Jesus).

Rev. Anatote Lopes