Por Rev. Índio de S. Mesquita*
O autor da carta aos hebreus, falando do privilégio de acesso plural dos crentes à presença da Deus, nos chama a atenção para o perigo de privatizarmos a fé, dizendo: “consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima” (Hb 10.24-25).
Em nossos tempos, por força do pensamento individualista, subjetivista e relativista da pós-modernidade, a cada dia cresce o número de pessoas que optam por particularizar a fé, e tentam viver uma religiosidade apenas de caráter intimo e pessoal, desconsiderando em parte ou por completo o princípio de uma religião coletiva, como o é por essência o cristianismo.
São os chamados “desigrejados”. Pessoas que por motivos diversos, se afastam do convívio comum daqueles que professam a mesma fé.
Alguns por divergirem, por não concordarem com os rumos doutrinários, litúrgicos ou até mesmo administrativos da liderança, outros por decepções ocorridas no campo das relações entre os irmãos, outros pelo envolvimento extremado, às vezes, com as coisas deste mundo, seus interesses pessoais, conquistas, trabalho, laser pessoal, e outros simplesmente porque entendem não ser tão necessária a “comunhão”, em seu sentido lato ou estrito.
Num procedimento que poderíamos chamar de auto-amputação, esse afastamento do organismo vivo (o corpo), usando uma figura comum na Escritura para a Igreja, definha, deteriora, anula, mata o membro decepado. (I Co 12.27; Ef 4.12; Cl 2.17).
Como Igreja, estamos unidos a Cristo e em Cristo, assim como uns aos outros. Somos membros do corpo de Cristo e uns dos outros, precisamos dessa ligação, dessa interação para sobrevivermos e principalmente, para cumprirmos o propósito e a finalidade de Jesus tê-la instituído: para nos estimularmos uns aos outros no amor para servir a Deus vivendo as boas obras, preparadas por Deus, desde antes da fundação do mundo, para que andássemos nelas (Rm 12.15; I Co 6.15; 12.12, 18, 20, 22, 24, 25, 27; Ef 2.10).
Usando uma outra figura, o galho desligado da parreira, fica sem nutrientes, sem alimento, não cresce, não frutifica. Sobre esse, o Senhor Jesus, o cabeça do corpo que é a Igreja, disse: “quem permanece em mim, e eu nele, esse dá muito fruto...” (Jo 15.5).
O problema é antigo e persistente, e devemos estar atentos se não estamos sendo engolidos pelo costume de individualizar, de privatizar a vida cristã, que pressupõe união, unidade, comunhão, participação e envolvimento.
É preocupante ainda a questão de que a grande maioria de nós se contenta em vir à igreja apenas aos domingos, não considerando a importância e a necessidade de estar também nas reuniões semanais (quartas-feiras e sábados [em Dracena terças-feiras e quintas-feiras]), quando há uma oportunidade de estudarmos mais detalhadamente a Bíblia, com a possibilidade de tiramos dúvidas, compartilharmos experiências, revigorarmos energias, contactarmos pessoas de nossa faixa etária, ou de um mesmo interesse, dentre tantos outros benefícios.
Para não ficarmos apenas com os deveres de vivermos coletivamente a fé, o salmista nos diz: “Óh quão bom e agradável é, viverem unidos os irmãos” (Sl 133). Quando Cristo, seu amor, seu perdão, sua misericórdia, sua bondade e seu chamado, é o que temos em comum, então essa relação se torna prazerosa, agradável e vitalizante.
Segundo a indicação do autor da carta aos hebreus, consideremos se não estamos relativizando, particularizando, privatizando nossa fé, deixando de usufruir da benção de vivermos em comunhão como o povo de Deus, sobre o qual o salmista afirma expressamente, que o Senhor derrama a sua benção e a vida para sempre. Pense nisso!
* O Rev. Índio de S. Mesquita é ministro presbiteriano, auxiliar na Igreja Presbiteriana do Setor Bueno em Goiânia – GO. O Presb. Isaías Matana nos trouxe o SEMANÁRIO Nº 16/11 do dia 08 de maio de 2011, onde foi publicado este artigo.
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